terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Cosmogonia segundo Aristoxeminicrates (fragmento)

"Nunca o mar grego se afundou junto ao Cáucaso."

Aristoxeminicrates (300 a.C.-260 a.C.)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mulher parindo um filho no Outubro de uma tarde francesa, no parque público de Saint Exupéry, em Paris

Krief nasceu no Outubro de uma tarde francesa, no parque público de Saint Exupéry, em Paris, enquanto pombas de asas geladas arrulhavam pedaços de pão faminto. Sua mãe, aflita nos estertores de uma gravidez incómoda e inesperada – e por distracção descoberta ao oitavo mês -, apoiou as mãos nuas na pedra do banco, primeiro a direita, depois a esquerda, e finalmente o dorso imenso e quase a estoirar de carne, e pensou: Posição cómoda para parir é abrir as pernas e esperar. Pensou ainda: Este jardim é muito bonito. Pensou também: Ai! A mãe de Krief dizia pensar a dor; inventariava e coleccionava dores, digamo-lo assim. Puxou o caderno preto do bolso do casaco felpudo, aguçou o lápis com os dentes, e escreveu: A dor de parto no Outubro de uma tarde francesa, no parque público de Saint Exupéry, em Paris, enquanto pombas de asas geladas arrulham pedaços de pão faminto, é uma dor difusa e irreal, como víssemos a partir de um plano superior uma mulher parindo um filho a quem deitará o nome de Krief, apoiando as mãos nuas na pedra do banco, primeiro a direita e depois a esquerda, e finalmente o dorso imenso e quase a estoirar de carne, enquanto pombas de asas geladas arrulham pedaços de pão faminto, é diferente da dor de parto de quem tem um filho numa maternidade ou mesmo em casa. Acrescentou: E é infinitamente triste. Cerrou com força as mãos nuas e gritou. As pombas não voaram.



Originalmente publicado aqui: http://estrolabio.blogs.sapo.pt